sábado, 17 de novembro de 2007

Épico de Gilgamesh



Eu me pergunto se o Epico de Gilgamesh realmente comprova o dilúvio Universal. Essa história é usada por criacionistas, mas está evidente que foi escrita muito antes da Bíblia e de acordo com a Bíblia pode considerar-se uma história pagã. Mas foram os próprios autores da Bíblia que se inspiraram nesse conto e em outro semelhante da mesma região chamado Épico de Atrahasis (outro nome de Utnapshtin) na criação do personagem Noé, portanto não comprova nada, ou melhor, comprova que Noé não passa de uma adaptação dos contos da Mesopotâmia feitos para outros deuses que inspiraram a criação do deus Jeová, Javé, YHWH ou seja lá o que for.

Tabuinha VIII
(...)
Gilgamesh responde que quer ter com Utnapichtim, seu "antepassado que soube entrar para a Assembléia dos deuses, procurou e encontrou a vida; quero interrogá-lo sobre o Destino e sobre a Vida".

(...)

XI

"Observando-te, Utnapichtim, vejo que não és maior nem mais alto que eu, e te assemelhas a mim como um pai ao filho. Também tu és um homem! Mas não tenho paz, fui criado para lutar; tu, ao invés, conseguiste subtrair-te a luta e serenamente repousas. Diz-me pois, como pudeste entrar para a assembléia dos deuses e encontrar a vida ?"

"Quero desvelar-te, ó Gilgamesh, uma história oculta, um segredo dos deuses.

Churrupak é uma cidade antiqüíssima, e por longo tempo os deuses lhe foram benignos, mas depois decidiram fazer descer sobre a terra um dilúvio. No conselho dos deuses estava também presente Ea, o deus do Abismo, e ele confiou â minha casa, feita de canas, esta sentença dos deuses. "E narrou como Ea o exortara a abandonar seus bens, salvar a vida e construir uma embarcação capaz de carregar a semente da vida de cada espécie, "Homem de Shurupak, filho de Ubara-Tutu, desmanche sua casa, construa rápido o barco e leve-o no mar de águas doces, carregando-o com o que for necessário."

"Preparei então madeira e piche, desenhei o plano do barco e nele desenhei vários sinais. Todo meu povo contribuiu na construção."

Quando a nave ficou pronta, "carreguei nela tudo o que possuía; prata, ouro e sementes de vida de toda espécie; fiz entrar toda minha família; carreguei as bestas grandes e pequenas; ordenei, por fim, que tomassem lugar os artesãos versados nas diversas artes".

"Os espíritos das trevas verteram depois sobre a terra uma chuva torrencial; eu fiquei observando a tempestade, assustadora de se ver. Quando despontou a aurora, ergueram-se nuvens negras como corvos; os espíritos do mal estavam endiabrados, e toda luz se transformou nas trevas mais densas; soprava impetuoso o vento do meridiano, as águas revoltas alcançaram os montes, desabando sobre os homens. O irmão não reconhecia mais o irmão; até mesmo os deuses tiveram medo do furação e correram a refugiar-se sobre a Montanha Celeste de Anu, encolhendo-se como cães assustados. Ishtar, presa de agonia, gritava: "O belo país se transformou em lama pelo meu mau conselho; como pude sugerir tamanha maldade? Como pude pensar em exterminar a minha gente? Eis que agora a correnteza abate os homens como no furor da batalha(...)"

"Todos os homens tornaram-se lama, a terra estava uniforme e deserta. Abri a janela do barco e a luz atingiu meu rosto; prostrei-me ao chão, depois sentei-me e chorei com lágrimas copiosas; observei aquele grande deserto de água, exclamei que todos os homens estavam mortos. Depois de doze horas duplas vi despontar no horizonte uma ilha: a minha nau estava sobre o monte Nissir. Ela ficou encalhada sobre o monte Nissir durante seis dias; no sétimo, tomei uma pomba e deixei-a partir, mas retornou, não encontrando nenhum lugar onde pousar. Tomei um corvo e o deixei partir; voou para longe, pois que as águas estavam baixando, comeu, ciscou a terra e não retornou. Então deixei que todos os animais saíssem e sacrifiquei um cordeiro; espargi alguns grãos sacrificiais sobre o topo do monte e queimei alguns ramos de cedro e mirto. Os deuses aspiraram o fumo que enchia de prazer as suas narinas e reuniram-se em torno do sacrifício como moscas."

Os deuses reprovaram a Enlil por ter suscitado toda aquela devastação: se queria punir os homens por alguma ofensa, podia soltar sobre a terra alguns leões ferozes, ou monstros, ou provocar uma carestia, mas não destruir toda a humanidade. Bel, porém, de modo algum se arrependeu, mas ficou agastado ao ver aquela embarcação: "Quem é esse mortal que conseguiu escapar ao seu destino? Ninguém deve sobreviver ao meu juízo". Mas Enki vai sobre a nave e diz a Utnapichtim as seguintes palavras; "Até agora, Utnapichtim, eras um homem mortal; deste momento em diante, tu e tua mulher sereis semelhantes a nós e habitareis longe, perto do mar onde desembocam os rios".



E foi aqui que Gilgamesh veio a encontrá-los.

Utnapichtim prossegue: "Mas que deus terá piedade de ti e te levará para junto dele, para que possas encontrar a vida que procuras?" E o desafia a ficar, como ele, seis dias e seis noites sem fechar os olhos.



Gilgamesh, ao invés, esgotado, se senta e adormece de súbito, profundamente. Ao seu despertar, Utnapichtim é tomada de pena pelo herói que depois de tantas tribulações volta de mãos vazias, sem ter encontrado nada do que procurava e lhe oferece uma possibilidade : existe uma planta milagrosa que cresce no fundo do mar e "que tem o aspecto de uma ameixeira". Se conseguir pegá-la e alimentar-se dela encontrará a vida e a eterna juventude.

Gilgamesh amarra duas grandes pedras às pernas, e deixa-se afundar no mar; encontra a planta, agarra-a, e emerge tendo na mão "a flor maravilhosa do mar"; depois, dando gritos de alegria, diz a Ur Chanabi: "Eis a planta! Eis a planta que dá a vida!(...) Quero levá-la aos sólidos muros de Uruk, quero que comam dela todos os heróis, quero dividi-la com muitos outros! Esta planta se chama "de velho torna-se jovem", quero comer dela e reaver toda a força da minha juventude!"

A barca navega por "vinte horas duplas" até dar numa pequena praia. Ali perto há um lago fresco e Gilgamesh entra nele para restaurar-se. Mas eis que "uma serpente sentiu o perfume da planta miraculosa, aproximou-se, rastejante, e a devorou".



Gilgamesh senta-se sobre a margem e irrompe num pranto desesperado. Volta a Uruk, levando consigo Ur Chanabi, a quem dá de presente um pedaço de terra.

Reconciliado com o destino de todo mortal, ele se conforma ao saber que sua memória perpétua será assegurada pela sua magnífica obra de construção em seu reino em Uruk.

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